A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E UMA NOVA ADVOCACIA
A inteligência artificial, ainda na sua “infância”, substituirá milhões de profissionais e, dentre eles, os advogados. Essa afirmação, aparentemente saída de uma obra de ficção, ganha espaço nos cafés de escritórios e happy hours pós-expediente. Mas afinal, poderá realmente a inteligência artificial dizimar os advogados de empresas e escritórios?
Primeiramente vale constatar que a inteligência artificial já causa impactos no trabalho de advogados. Em matéria da Harvard Business Review[1], Richard Susskind e Daniel Susskind apontam que atualmente sessenta milhões de disputas contratuais do Ebay são feitas por uma ferramenta digital de resolução de conflitos. Multiplicam-se no mercado os programas que elaboram petições para defesas em ações de massa.
Mais recentemente ainda, em 07 de março de 2017, uma matéria veiculada pela StartSe informou que o maior banco norte-americano, o JPMorgan, anunciou no mercado uma máquina que está analisando acordos financeiros via COIN (Contract Intelligence), uma nova rede particular de nuvem, na tentativa de reduzir despesas e riscos.[2]
Isso significa que advogados e outros tantos profissionais liberais serão expurgados? Não. A inteligência artificial é mais uma ferramenta, como tantas outras já criadas, que influencia e influenciará cada dia mais todas as áreas da atuação humana, das mais corriqueiras às mais complexas. Apenas a título de ilustração, um aplicativo (o Confession) permite ao católico treinar para sua confissão. Isso significa que todos os padres serão substituídos por máquinas? Não nos parece.
Temer-se cegamente a inteligência artificial nos soa como exagero, assim como negar a sua força e impacto igualmente não é o mais prudente a se fazer. Máquinas conseguem analisar julgamentos, precedentes e leis em frações de tempo nunca alcançadas pelos maiores exércitos de advogados. A capacidade de análise e coleta de dados é invariavelmente o ponto forte e inquestionável das máquinas. Neste setor qualquer pretenso competidor humano seria massacrado pela inteligência artificial.
O que fazer então? Se as máquinas estão desenvolvendo habilidades em que elas são imbatíveis nós deveremos desenvolver outras que nos farão mais competitivos e competentes que elas. Para Megan Bech e Barry Libert[3], habilidades voltadas para inteligência emocional tais como empatia, persuasão e capacidade de compreensão social serão nossos diferenciais não alcançáveis pelas máquinas. E é aí que devemos ser os melhores se de fato pretendemos manter-nos relevantes no mercado.
Além disso, temos soluções únicas nascidas de anos de experiência, de dedicação e conhecimentos multidisciplinares que máquinas simplesmente não podem repetir porque tais experiências são únicas e individuais. Novamente podemos fazer a diferença aqui.
Há ainda o mindset de crescimento. Suas técnicas nos permitem fazer melhor as atividades um dia após o outro, e assim por diante, focando em detalhes qualitativos e inerentes à mente humana, voltando sua atenção às necessidades, valores e expectativas do cliente, o que permite um trabalho mais humanizado e mais genuíno nos seus relacionamentos interpessoais, o que fará sim toda a diferença no resultado final, o que um robô ainda não é capaz de fazer.
Em outras palavras, se máquinas são boas em determinados pontos e advogados (como qualquer outro humano) são bons em outros aspectos, fica perceptível que trabalharemos em conjunto, complementando habilidades e potencialidades. Afinal, não há máquina que substitua a experiência nascida a partir do trabalho duro, ainda.